UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
CURSO DE PEDAGOGIA
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho a professora Cláudia Oliveira, que, ao desenvolver essa atividade, me impulsiona a colocar no papel a minha identidade sem vergonha de demonstrar minha verdadeira essência.
Dedico também à minha professora e Madrinha, Maria Cristina e a todos os Professores de Matemática que tive ao longo dos anos, que me proporcionaram um amor tão grande a essa ciência.
Memorial
As histórias aqui descritas por mim se passaram nas escolas estaduais localizadas em Sabará/MG.
Das escolas que eu passei tenho algumas lembranças marcantes, a maior parte delas era o meu bom desempenho nas provas e atividades propostas, sobretudo, na disciplina de Matemática e também da amizade que fiz com todas as professoras, inclusive professoras que futuramente vieram a trabalhar comigo na mesma escola. Mas o fato marcante que irei expor é de uma professora que se tornou tão amiga a ponto de eu escolhê-la como minha “Madrinha de Crisma”
Minha história de admiração por essa professora começou em um dia um pouco difícil de ser vivido, mas que no final, valeu à pena. Foi na 5ª Série do Ensino Fundamental, na Escola Estadual Bilu de Figueiredo. Foi o dia que eu fui expulsa da sala pela primeira vez. Quanto eu chorei aquele dia. Não chorei por ser expulsa, mas por ser expulsa injustamente.
Tinha na sala uma turma de alunos que saiam para o recreio e só retornavam muito tempo após já ter se iniciado a aula. Nesse dia, eu entrei pra sala, conversei com a professora de história, que não me recordo o nome, mas apelidávamo-la de “Periquita”, e disse a ela que eu precisava resolver uma coisa na secretaria. A professora permitiu que eu fosse até lá, sendo assim, saí da sala. Quando retornei, estava um tumulto em frente à sala de aula. A professora havia proibido os alunos que chegaram atrasados do recreio de entrar na sala. Quando eu, inocentemente tentei entrar, fui agredida verbalmente como se eu estivesse no meio daqueles outros alunos. Pus-me a pensar que mesmo que eu estivesse na mesma situação que eles não achava certo todos aqueles insultos. Nunca acreditei que isso realmente educaria alguém. Em conseqüência da atitude da professora, em especial, de sua agressividade, os alunos que ficaram do lado de fora começaram a esmurrar a porta e aí foi aquele conflito. Fui mandada para a diretoria juntamente com todos os alunos e fui acusada de ter feito a mesma coisa, porém, enquanto os alunos brigavam em frente à sala, eu sentei no meu cantinho e me pus a chorar. Até o final da aula ainda estava chorando. Mudou o horário e entrou outra professora na sala, a professora de Matemática, quando ela me viu naquele estado, chorando de soluçar, me tirou da sala, conversou comigo, me acolheu e foi mais do que uma professora pra mim.
Eu já estava cansada de receber insultos e agressões no meu próprio lar, minha família sempre foi muito problemática (e ainda é), quando vi isso acontecendo na escola, me bateu um desespero de não me encontrar nesse mundo. Pensei que todas as pessoas eram iguais, que aquelas humilhações iriam me acompanhar para o resto de minha vida.
Ao receber o carinho e atenção dessa professora de matemática minha visão de mundo se ampliou e voltei a acreditar nas pessoas. Já tinha certa admiração por ela, por sua maneira ensinar, por sua inteligência, por sua disponibilidade, por sua rigidez quando necessário e etc. Porém, sua docilidade ao conversar comigo, me fez admirá-la mais ainda.
Sua maneira de ensinar era muito interessante, ela tinha muita desenvoltura ao explicar a disciplina. Sempre trazia exemplos ao quadro e resolvia juntamente conosco, depois ela apresentava um problema para que pudéssemos resolver. Ao acabar de passar o problema ao quadro, andava em volta das carteiras para ver qual a maior dificuldade dos alunos em resolver certo problema. Voltava ao quadro e explicava novamente, perguntando sempre se restava alguma dúvida. Nunca usou de agressões ao falar conosco, mas aceitava todas as dúvidas, o que levava as pessoas assumirem suas dificuldades. Ensinava mil vezes se preciso a mesma matéria. Sempre se preocupou com a qualidade do que se ensina e não com a quantidade. Não vou mentir, às vezes eu ficava cansada de tanta explicação. Eu sempre tive muita facilidade com a matemática e não conseguia entender em que as pessoas tinham dificuldade. Com o tempo fui fazendo amizades e comecei a ajudar os meus colegas, que sempre me pediam socorro na hora das provas, só assim passei a compreendê-los.
Recordo-me de uma das provas que foi aplicada à minha classe. Essa prova eu achei muito simples, era questão de interpretação da questão. Porém todos na sala afundaram. Essa prova tinha o valor de 8,0 pontos. Fizemos a avaliação e conversamos entre nós sobre o assunto da prova. Percebi que meus colegas sabiam fazer a questão, mas, por medo ou por achar que não era aquilo, não responderam. Resultado, no dia da entrega das provas a professora chegou à sala com uma postura bem diferente. Foi para o quadro e começou a perguntar aluno por aluno sobre a matéria e para a surpresa dela, todos eles sabiam fazer as questões, mas não fizeram na hora da prova. Ela chamou a atenção da sala inteira, sem exceção e entregou todas as provas. Da maneira que ela falou lá na frente, até eu achei que havia ido mal, porém na hora que recebi a prova, vi que eu havia tirado 8,0 pontos. Dobrei a prova imediatamente e guardei na mochila. Quando os outros alunos receberam suas provas começaram a partilhar o valor que tiraram entre si. Todos os alunos haviam tirado 0,5 ou 1,0. Então fui perceber que fui a única aluna a ir bem na prova. Quando os meninos me perguntaram quanto eu tirei, eu menti e disse que só olharia a nota na minha casa.
Com relação à prova, hoje acredito que talvez essa professora não tenha buscado usar uma linguagem mais próxima da realidade dos alunos, o que resultou no déficit nessa avaliação.
Claro que ao analisar esse fato da prova, tenho muitas críticas a respeito da avaliação em si, que pra mim, não é demonstração de saber ou conhecimento como as pessoas pensam. Infelizmente, existe um sistema que impõe isso e os profissionais da área da educação muitas vezes tem que se submeter a ele.
Mas o que mais me instigou nesse fato, foi à postura da professora ao chamar a atenção da turma inteira, o que me deixou muito aliviada. Até hoje só eu e a professora sabemos o resultado dessa prova.
Sempre que chegamos a algum lugar não é simplesmente uma pessoa chegando, mas sim uma pessoa que tem personalidade, sentimento e principalmente trajetória de vida, uma história.
O que é significativo pra gente é o que fica marcado, seja positivo ou não, e foi esse o motivo de dar tanto significado a esse fato. Antes de seu acontecimento já havia uma história vivida por mim.
Sempre que as professoras de matemática que tive entregavam avaliações ou trabalhos se referiam a mim como se eu fosse um “gênio”, um exemplo a ser seguido. Após os grandes elogios que se direcionavam a mim, os alunos passavam a me detestar. As professoras que agiam assim achavam que estavam fazendo bem a mim e aos outros alunos, porém, essa atitude acabava com a auto-estima da turma e criava um ar de disputa, competição e antipatia na sala de aula.
Hoje, vejo que essa minha professora ao chamar a atenção da sala inteira tinha plena consciência de que precisava estimular os alunos sem torná-los inferiores a algo ou alguém. Quando ela chamava atenção ela sempre afirmava: “Vocês sabem!”. O que de fato era verdade e que levava os alunos a se interrogarem porque não fizeram as questões se realmente sabiam e também a perder o medo de arriscar.
Essa atitude também me colocou no devido lugar. Quando os professores te direcionam elogios exageradamente você fica presunçoso e repugnante, acha que é melhor que os outros perdendo toda sua humildade, se acha independente, como se não precisasse de ninguém.
O fato dela me tratar com igualdade me incluiu e não me excluiu daquele meio que eu fazia parte. Às vezes temos a ilusão de que exclusão e inclusão só se direcionam a pessoas com deficiência, o que não é verdade. Será que já paramos pra pensar quanto as nossas atitudes em sala de aula são de exclusão e quantas são de inclusão? Se só direcionamos a um aluno com deficiência com a seguinte fala: “Esse aluno é de inclusão”, podemos fazer o seguinte questionamento: Os outros alunos são de que mesmo? Para mim, todos os alunos devem ser de inclusão.
Como se pode ver ao longo dessa síntese da minha história acadêmica e pessoal, minha admiração só me levou a anos mais tarde escolher minha madrinha de crisma, porque ela soube “ler” meu corpo. Cito aqui Miguel Arroyo quando em seu livro “Imagens Quebradas” faz-nos refletir sobre os “Corpos que falam até quando silenciados.”. Hoje consigo relembrar o quanto meu corpo meu corpo falava embora, sem que eu soubesse.
O aprendizado que tive ao longo da minha trajetória escolar é o que me fez acreditar na vida, nas pessoas e na possibilidade de ressignificar os acontecimentos marcantes.
Contudo, é isso que me faz afirmar que professores não devem ser perfeitos para estarem na sala de aula, até mesmo porque, se fosse assim, não existiria escola. Professor para mim tem que ser profissional, porém humano. Isso não quer dizer ser tios e tias, Paulo Freire nos mostra bem claramente a diferença que tem entre ser tio (a) e professor (a).
Portanto, não acho que minha madrinha é uma professora perfeita ou ideal, mas sim real. E a beleza que tem no ser real é o poder se aperfeiçoar.
Cláudia de Paiva Barroso
ESSA HISTÓRIA É LINDA...
ResponderExcluirWER
"LINDA..." WERBERT
ResponderExcluir"NÃO HÁ EDUCAÇÃO SEM AMOR. O AMOR IMPLICA LUTA CONTRA O EGOÍSMO (...) NÃO HÁ EDUCAÇÃO DO MEDO. NADA SE PODE TEMER DA EDUCAÇÃO QUANDO SE AMA". Paulo Freire
ResponderExcluirnossa lindo demais
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