Memorial da minha trajetória educacional
Este memorial relata toda a minha trajetória escolar em sala de aula e fora dela também. Bom, estudei tanto o Ensino Fundamental quanto o ensino Médio em escola pública. Nasci em 1986, iniciei minha trajetória escolar em 1991, segundo meu pai, eu insistia pra ele me matricular na escola, mas não vou relatar minha vida escolar nas séries iniciais, pois não me lembro, mas vou descrever minha trajetória a partir do ensino fundamental.
Estudei meu ensino fundamental na Escola Estadual Tomás Brandão, localizado no bairro Senhor Bom Jesus em Belo Horizonte, meu processo de aprendizagem era bom, tirava ótimas notas com exceção da matemática, que sempre tive muita dificuldade, nessa matéria meus rendimentos eram péssimos, percebia que alguns professores não estimulavam os alunos e não tinham o menor interesse em instigar os alunos a ter sede de conhecimento e gostar da matéria, comecei a perceber que um bom professor é crucial pro aprendizado dos alunos, o acompanhamento e a interação são os principais aspectos. No ensino fundamental o que tenho a relatar de ruim é em relação ao quesito professores, inclusive de matemática, onde teve início meu trauma com a matéria.
Tudo começou quando a professora fazia uns problemas no quadro e chamava um aluno por vez para resolvê-los, ela sabia das dificuldades de cada um, principalmente a minha, chegou até a chamar minha mãe porque as minhas notas eram muito baixas, e mesmo com essa consciência ela me mandou resolver o probleminha no quadro, e então aquele momento se tornou inesquecível, comecei a suar frio, senti um aperto na garganta e com muito medo virei para a professora segurando o choro e disse que não sabia fazer, na hora a maioria dos alunos começaram a rir, e a professora com uma cara de desprezo começou a falar, que isso não era possível, que eu era a única da sala que não sabia fazer o exercício.
Essa foi a experiência que mais me marcou, mas também tive bons momentos com uma professora de matemática da 4ª série do ensino fundamental a Adélia, ela era ótima, uma vez eu e meus colegas de sala fizemos uma avaliação e como sempre eu fui mal, mas a professora não me recriminou por isso, não me olhou com aquele olhar de desprezo como fizera a professora anterior, ao contrário, ela olhou bem nos meus olhos e disse: “Sei que você é capaz”, essas simples palavras me fizeram acreditar que eu realmente seria capaz de aprender matemática e eu comecei a me esforçar mais e mais, o que resultou na melhoria das minhas notas.
A Adélia sabia como incentivar os alunos, usava todos os artifícios da psicologia infantil, exatamente como um bom pedagogo deve fazer, ela sempre incentiva os alunos com bombons e balas, e sempre orientava-nos no sentido de aprimorar o que já sabíamos e de buscar aprender o que ainda não sabíamos. Não posso deixar de mencionar as famosas estrelinhas, não eram saborosas como os doces, mas eram como uma medalha que recebíamos sempre que tínhamos um bom desempenho em provas e exercícios, todo mundo queria ganhar uma estrelinha para levar pra casa e mostrar para os pais, as estrelinhas também ajudavam muito no rendimento da turma.
A Adélia sempre apresentava os conteúdos de forma clara e concisa, objetivando realmente o aprendizado dos alunos, sem pressa ela explicava cuidadosamente, com muita paciência, cada etapa do exercício para que não perdêssemos o raciocínio, acredito que prender a atenção dos alunos não seja uma tarefa muito fácil para nenhum professor, deve ser muito estressante ficar gritando e chamando a atenção de uma criança, insistindo para ela prestar a atenção em uma coisa que é importante para ela, mas de alguma forma a Adélia conseguia fazer com que todos ficassem quietos prestando atenção, acredito que a boa relação que ela tinha com os alunos poderia ser a causa disso.
A Adélia também era muito paciente para responder e tirar as dúvidas dos alunos, na aula dela eu não tinha medo de perguntar, o que era comum nas outras aulas de matemática, não só pra mim, mas para quase toda a turma, é muito importante no aprendizado tirar as dúvidas em sala de aula com o professor e não levar as dúvidas para casa, porque quando eu não conseguia tirar uma dúvida eu não conseguia entender a matéria seguinte e isso só gerava mais dúvidas, ela nos incentiva a perguntar e isso nos deixava bem à vontade.
Ela também tinha um grande domínio do conteúdo o que ajudou a diminuir as dificuldades de cada um, saber dar aula e passar adiante o que se sabe é o que torna o pedagogo um bom professor, o dom de ensinar, de lecionar, de transmitir o conhecimento ao próximo. Não basta saber para si, tem que saber passar adiante também e muitos professores não sabem fazer isso, como foi o caso da primeira experiência traumática que relatei, a professora não se importava se estávamos aprendendo ou não, porque isso não fazia diferença pra ela, afinal ela receberia o salário dela no final do mês da mesma forma, acho que era dessa forma que ela pensava, para ter tanto descaso com os alunos.
A Adélia sempre relacionava o conteúdo da matéria com a realidade, dando exemplos simples do nosso cotidiano, como na contagem de frutas, balas, etc... Isso também era uma boa técnica, afinal de contas querendo ou não lidamos com a matemática todos os dias, ao assistir televisão escolhendo os canais, olhando as horas, as datas, nas compras, usamos a matemática diariamente, e quando se percebe isso fica mais fácil de aprender.
Como eu disse anteriormente ela também tinha um bom relacionamento com os alunos, mas não só com os alunos, ela era uma boa professora e uma boa pessoa também, ela tinha um bom relacionamento com os outros professores e funcionários da escola, da mesma forma ela também tinha um bom relacionamento com os pais dos alunos, porque ela não tinha problemas com nenhum aluno, logo ela também não tinha problemas com os pais e nas reuniões ela explicava aos pais as dificuldades de seus filhos e o que eles poderiam fazer para ajudar, o que fazia com que os pais participassem do processo de aprendizagem dos filhos.
Confesso que matemática não é uma das minhas matérias preferidas, mas eu me sentia muito bem na aula da Adélia, eu me sentia confiante e era feliz por ter amenizado os meus problemas com a matéria. A Adélia estava sempre atenta para ajudar os alunos na solução de qualquer problema, estava sempre à disposição dos pais e alunos e sempre tentava solucionar os problemas da forma mais simples e tranqüila possível.
Eu gostaria que os professores seguissem o exemplo da Adélia, porque graças a ela eu não sofri um trauma maior, apesar de não gostar muito da matéria ela me fez perceber o quanto a matemática é importante para a minha vida.
Fernanda Rodrigues Pereira